Tempos difíceis para todos; o sonho de ser patrão, senhor do próprio tempo multi capitalizado, invejado, admirado, assediado… bons tempos aqueles. E o que temos pra hoje? Cenário de negócios hostil, alta índice de inadimplência, capital de consumo reduzido e taxa de desemprego em alta. Em que momento entrar ou sair de um negócio? Como diferenciar a linha tênue que separa a insistência da teimosia? Vale a pena investir? Para que encontremos as referidas respostas precisamos de números. Vamos às contas.
O segmento fitness que deveria ser visto como investimento em saúde pela população, infelizmente, para a grande maioria, é classificado como lazer e não se localiza entre as prioridades na lista de despesas.
A queda do faturamento das empresas desse segmento em grande parte dos casos superou os 30%, o que exige que o cenário seja revisto. A planilha de custos deve ser refeita e reavaliada. Vamos a ela:
Se em tempos “normais” a folha de pagamento de uma academia pode girar em torno de 40% da receita bruta, em tempos de crise a conta não fecha. Vamos aos números:
Um profissional que ministra três aulas de ginástica coletiva três vezes por semana a R$20,00 por aula, R$60,00 por dia, R$180,00 por semana e R$810,00 em média por mês.
Mas esse seria o custo/professor? A resposta é não. Agora calculemos os custos agregados que dependerão do enquadramento da empresa junto a receita federal: Simples nacional, lucro presumido ou lucro real. Considerando que a grande maioria das empresas deste segmento estão adequadas ao simples esses valores dependem da tabela de recolhimento que podem variar de 1 a 5, cada uma com suas adequações e valores. Como vemos cada caso apresenta números diferenciados, vamos generalizar. FGTS, GPS, férias e décimo terceiro são custos que não temos como negligenciar, esses somados giram em torno de 50%, ou seja, mais R$405,00 que somados a remuneração elevam os custos deste profissional a R$1.215,00. Se houver gastos com passagem ou locomoção devem ser somados aos valores já encontrados.
Caso a mensalidade de cada cliente seja R$120,00 quantos clientes precisaríamos para fecharmos essa conta? Pense…. se pensou em dez clientes esta enganado, pois temos outros custos que não podem ser negligenciados como aluguel, energia elétrica, impostos, água e esgoto, honorários de contador e advogados se houver, gastos com manutenção entre outros. Precisamos definir qual a margem de contribuição esperada para cada uma dessas turmas ou a soma delas já que boa parte dos clientes exercitam-se em mais de uma aula. Controlar o relatório de caixa do sistema de acesso e comparar com a frequência nas aulas nos daria dados para determinar se vale a pena prosseguir, mudar ou encerrar determinada turma.
Aulas como bike indoor, hidroginástica ou natação entre outras necessariamente agregam outros custos que deverão integrar nossa planilha.
Após lançar e analisar muito chegará a hora da decisão. Sugiro que nesse momento não seja emocional e sim racional, analise o período e o histórico dos meses, converse com o profissional do horário e exponha a necessidade de estar acima da linha d’água para que a empresa se mantenha atuante. Sugira mudanças e busque a demanda dos clientes e dos que poderiam ser e não são. E caso decida encerrar uma turma/aula saiba que recuar algumas vezes pode servir para tomar impulso para um salto. Algumas vezes fiquei triste por ter que encerrar um negócio que já não remunerava o investimento, tentei mudar, reinvesti, cobrei resultados que não apareceram; e algum tempo depois me senti aliviado por ter me livrado daqueles números negativos que teimavam em frequentar enrubescidos meus relatórios.
Penso que algo que está dando certo não deve bancar o que não está; não por muito tempo. Com exceção se houver outros valores intrínsecos, mas tenha cuidado nessa avaliação. Mais uma vez, não seja emocional.
Por conceito desinvestimento é a operação de estratégia econômica que consiste na supressão de investimento em estruturas parciais ou totais de uma empresa visando a saúde financeira da mesma e a remuneração do capital aplicado.
Nesta matéria iniciamos por levantar os custos em comparação com a receita de um profissional ou turma para embasar uma decisão de continuidade ou não da mesma. Em nossa próxima matéria aprenderemos a calcular o ponto de equilíbrio ou breakeven, o que diz respeito a toda a empresa.
Boa sorte e bons negócios.
Celso Cunha