Segundo o dicionário Michaelis, oportunismo significa:
– Habilidade em aproveitar os fatos ou circunstâncias para obter algo.
– Prática de conduta adotada por indivíduo que, visando poder e vantagens, acomoda-se ou aproveita-se dos fatos e circunstâncias, sacrificando princípios morais.
Nos últimos anos, tem me chamado a atenção a quantidade de empresas que apoiam a causa do ‘Outubro Rosa’.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, são diagnosticados cerca 12 milhões de novos casos de câncer a cada ano no mundo.
O câncer de mama é a causa mais frequente de morte por câncer entre as mulheres¹, embora a maioria das incidências possa ser curada se descobertas no início. Evidências apontam que 95% dos casos podem ser cura se descobertos precocemente.
Essa é a razão da existência da campanha Outubro Rosa, que tem por objetivo alertar as mulheres sobre a importância dos exames preventivos contra o câncer de mama.
Aqui temos uma ótima oportunidade. E para um bom oportunista, ela basta para que se consiga uma ótima autopromoção.
O marketing de oportunismo não é, necessariamente, ruim. Temos cases maravilhosos do Google e do Facebook que criaram funcionalidades brilhantes e totalmente alinhadas aos seus propósitos.
Ambas surgiram durante o tsunami do Japão de 2011 e são reativadas sempre que ocorrem grandes desastres.
O buscador criou o person finder², que busca informações de pessoas desaparecidas. Já a rede social criou o check in de segurança³, que permite que o usuário mostre a seus amigos e familiares que está a salvo.
Mas também temos claros exemplos de marketing de oportunismo que geraram repercussão negativa para artistas e empresas, como Claudia Leitte, que postou no Twitter uma foto dela e da medalhista olímpica Rafaela Silva⁴ e Luciano Huck que, com sua marca de roupas UseHuck, aproveitou um ato de racismo contra o jogador Daniel Alves, durante partida do campeonato espanhol em 2014, para vender camisetas da campanha Somos Todos Macacos⁵.
Trazendo para o nosso mercado de fitness, qual o objetivo de termos as aulas especiais do Outubro Rosa? Ou promoções e ofertas especiais do Outubro Rosa? Quanto essas aulas, ofertas e promoções realmente colaboram com a verdadeira causa?
Enquanto temos academias que apoiam projetos sérios de combate ao câncer de mama, outras ganham notoriedade trocando a cor do logotipo, vestindo as pessoas de rosa e fazendo ações e promoções como “mulheres tem desconto no outubro rosa” ou participe da aula especial e traga uma amiga”.
Ações como “adesão solidária”, praticada pela Upfit Academia, de São Paulo/SP, ou o apoio a Rede Feminina de Combate ao Câncer⁶, realizado pela Academia Estação Azul, de Itajaí/SC, se alinham perfeitamente aos seus valores virtuosos e não tem como objetivo final promover a própria marca.
Na ação da academia de São Paulo, o cliente paga o quanto quer de adesão e todo o valor arrecadado será doado para instituições de combate ao câncer de mama.
Na academia de Itajaí, o apoio se dá através da venda de camisetas da campanha, onde todo o valor arrecadado é destinado à instituição supracitada.
Não é errado apenas apoiar a causa através de promoções, aulas especiais e descontos, visto que não existe um selo que regula o Outubro Rosa. O que faz uma ação de marketing ser positiva ou negativa, principalmente aos olhos do cliente final, não é a intenção, mas a forma que é aplicada na vida real.
Por Fernando Tadeu
Referências
¹ Fonte: WORLD HEALTH ORGANIZATION. International Agency for Research on Cancer.
² https://www.google.org/personfinder/global/home.html?lang=pt-BR
³ https://www.facebook.com/about/safetycheck/
⁴ https://twitter.com/ClaudiaLeitte/status/762982420480155648
⁶ http://redefeminina.ning.com/
