Formada em Educação Física pela Universidade Estácio de Sá, a carioca Ana Paula Fortes vem fazendo carreira no exterior e deixando sua marca por onde passa. Atualmente, morando na Costa Rica, ela foi a primeira profissional a ministrar aulas de ginástica localizada naquele país, cujo mercado fitness tem muitas semelhanças com o do Brasil.
Conquistar um emprego com uma remuneração justa que proporcione reconhecimento e oportunidades de crescimento é o sonho de qualquer profissional que vislumbra uma carreira de sucesso. Muitas vezes, esse emprego pode ser estar onde menos imaginamos, como, por exemplo, fora do Brasil.
É o que aconteceu com Ana Paula Madeira Borges Fortes, que desde 2008 mora na Costa Rica, onde trabalha em academia e como personal trainer. Na verdade, a carreira de Ana Paula no exterior não teve início na Costa Rica. Desde 2000, ela já atuou em vários países, como Portugal, Emirados Árabes e Iran, onde deu aulas de musculação, ginástica localizada, spinning, boxe, tae bo, além de trabalhar também como personal trainer.
Mas a oportunidade de viver e trabalhar fora do Brasil não foi uma escolha somente de Ana Paula. Formada em Educação Física pela Universidade Estácio do Rio de Janeiro, com pós-graduação em musculação e personal trainer, ela é casada com um técnico de futebol que atua no exterior. Daí a razão das muitas viagens.
Em Costa Rica, Ana Paula mora na cidade de Alajuela, onde seu marido é contratado por um clube local. A cidade fica a 15 minutos da capital do país, San Jose.
Sua rotina de trabalho é dividida em dois turnos (manhã e noite), quando ministra aulas de ginástica localizada e boxe em academias, além de prestar serviços de personal trainer, atualmente, para 12 alunos.
No Brasil, Ana Paula também trabalhou na área de educação física e como modelo fotográfico. Inclusive, ela e o marido possuem uma academia, no bairro de Copacabana, onde então moravam, chamada Marco Octavio.
“Quando surgiu a oportunidade de irmos para a Costa Rica, pesquisei na internet academias de ginástica em Alajuela na tentativa de encontrar um emprego na minha área. Nessa pesquisa, encontrei uma academia chamada Zone Trainer Vip. Enviei um resumo de meu currículo e fui contatada”, conta Ana Paula.
Segundo ela, o mercado fitness na Costa Rica tem muitas particularidades. Porém, entre todos os países em que ela morou, é o que mais se assemelha ao Brasil.
“Tanto em relação à alimentação quanto à cultura de praticar exercícios para manter uma boa saúde, os costarricenses são muito parecidos com os brasileiros. A diferença é que no Brasil, as pessoas são mais estressadas e preferem treinos rápidos para não perder tempo. Na Costa Rica, os alunos são mais tranquilos. Geralmente, ficam até três horas e meia nas academias, praticando aulas de diversas modalidades”, revela.
Custo de vida é mais baixo
O país também possui um número significativo de academias, porém, a grande maioria é de menor porte, quando comparadas aos empreendimentos brasileiros. “Há algumas com aparelhagem excelente e outras não. As mensalidades são bem mais acessíveis do que as praticadas no Brasil. O preço mais alto gira em torno de US$ 40 por mês, cobrado por uma das melhores academias da cidade, que no Brasil pode ser comprada a uma de médio porte”, expõe.
Quanto à remuneração, Ana Paula explica que o valor da hora/aula pago a um professor de educação física na Costa Rica para aulas coletivas é bem similar ao que é pago nas academias brasileiras. Já os honorários de um personal trainer variam de acordo com as possibilidades financeiras do cliente.
“O país onde mais fui bem remunerada foi Portugal. Lá, cheguei a receber em torno de três vezes mais do que no mercado brasileiro para exercer os mesmos serviços. Por outro lado, o custo de vida em Costa Rica não é alto. Transporte, moradia, alimentação, roupas etc. custam menos do que no Brasil”, destaca.
Não precisa ter diploma
O fato de ser brasileira e possuir diploma na área também contou muitos pontos a favor de Ana Paula. Para se ter ideia, ela é a única professora de ginástica localizada na região, e ninguém conhecia a modalidade antes de ela chegar ao país.
Entretanto, não existe na Costa Rica a exigência do diploma. “Em nenhum país em que trabalhei precisei apresentar o diploma. Apenas meu currículo. Os contratantes se mostravam surpresos por eu ter pós-graduação, já que grande parte dos professores, tanto da Costa Rica quanto nos outros países em que estive, não possui faculdade de Educação Física, mas sim cursos específicos de cardiofitness ou spinning, o que implica a limitação de trabalharem somente na área cursada. Outro fator importante é ter uma boa aparência, o que acaba ajudando na contratação. Já no caso de treinador de futebol, por exemplo, o diploma é exigido e reconhecido pela Federação de Futebol”, explica.
Ana Paula considera a falta de exigência do diploma um problema, uma vez que não se têm professores formados, mas sim instrutores que fazem pequenos cursos e acabam recebendo a mesma remuneração de profissionais que investiram em uma boa formação e, inclusive, em pós-graduação.
Apesar de todas as diferenças do Brasil, Ana Paula garante que a experiência tem sido muito positiva. Além de conhecer a cultura de diversos países e aprender outros idiomas, como o espanhol, língua oficial da Costa Rica, ela sente-se realizada profissionalmente.
“Minha expectativa, em qualquer lugar onde eu possa morar, é aprender e absorver o máximo de informações, tanto da minha área profissional quanto da cultura do país, pois acredito que devemos estar sempre abertos para novos conhecimentos, já que na área de fitness há sempre maneiras diferentes de pensar e atuar. Além disso, também tenho conseguido levar novos conceitos de aulas para os costarricenses, como, por exemplo, os benefícios da ginástica localizada, que foi uma novidade por aqui”, garante.
Segundo ela, o brasileiro é muito bem visto na área de fitness em qualquer lugar do mundo. “Para quem quiser tentar carreira fora, é fundamental falar inglês. Além disso, quanto mais experiência e participação em cursos, maior é a empregabilidade. Sinto-me realizada e com vontade de crescer cada vez mais. Acredito que em toda profissão o primeiro ponto é gostar do que se faz, pois só assim é possível trabalhar motivado. O segundo fator é buscar o máximo de conhecimento e atualização. Havendo essa dedicação, a remuneração acontece naturalmente e as oportunidades surgem”, aconselha Ana Paula.
Confira algumas curiosidades interessantes do mundo fitness em países árabes (Dubai) e islâmicos (Iran).
1- Tomam chá durante o treino, em vez de água, mesmo que esteja muito calor. Isso quando não comem doces e biscoitos que ficam em uma mesa à disposição dos alunos.
2- Existem academias para homens e para mulheres. Jamais homens têm contato com uma mulher nesses locais, a não ser que sejam parentes.
3- Em academias voltadas para homens, os alunos correm na esteira vestidos com as roupas árabes tradicionais (túnicas brancas, uma espécie de turbante na cabeça e sandálias de couro).
4- Em geral, as mulheres vão treinar com roupas muito extravagantes (uma espécie de túnica longa) que são tiradas quando chegam às academias. Por baixo, geralmente, usam joias, bolsa e jeans.
5- Tirar foto durante a aula é extremamente proibido. Ana Paula, sem saber, tentou fazer isso uma única vez e passou por um grande constrangimento. Além de ser obrigada a apagar as fotos, teve de se desculpar com os alunos; muitos, inclusive, abandonaram a aula depois desse ocorrido.
6- Nos países islâmicos, em todas as academias (e em qualquer outro lugar) são mantidos os tapetes para se rezar o alcorão por seis vezes ao dia. As pessoas param tudo o que estão fazendo, se ajoelham e ficam em torno de 20 minutos orando. Até o treino de futebol é interrompido por conta disso. As aulas de ginástica têm seus horários baseados nos horários das orações.
Por Madalena Almeida, jornalismo Gestão Fitness